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sábado, 19 de setembro de 2009

Isso é rock 'n roll !!!


Ontem assisti no Canal Brasil o maravilhoso documentário Loki?, sobre a vida de Arnaldo Baptista e dos Mutantes (é muito difícil dissociá-los). Cara, não é que os caras e a Lee - Rita Lee, não tocavam rock??? Pois é, eu me senti envergonhada por não saber nada (apesar de ouvir uns dos seus clássicos, na MPB FM) sobre os Mutantes. Os caras se destacaram com suas roupas, sua teatralidade no palco e sua competência no meio do iê, iê, iê da época e tocaram rock Brazuca, isso mesmo, com B maiúsculo.

Gostei tanto do que vi, desde a sensibilidade em que a vida de Arnaldo - antes e após Rita Lee - foi retratada, aos registros antológicos e a aula de história da música brasileira - maior contribuição do filme - que a película deixa. Hoje eu sei porque a Rita é considerada a rainha do Rock nacional (por incrível que pareça, eu conheci a música dela na época do "tutti-fruti", que de rock não tinha nada!).

Eis abaixo, uma belíssima postagem que encontrei que mostra bem a impressão que o filme deiza para que gosta de, náo somente ouvir, mas tomar conhecimento de um pouco da história da música feita no Brasil:

‘Loki’ expõe lucidez insana de Arnaldo Baptista


“Minha alegria são as etapas vencidas”, admite Arnaldo Dias Baptista, eterno mutante, logo num dos takes iniciais de Loki, arrebatador documentário produzido pelo Canal Brasil sobre uma vida que, como ressalta Lobão, foi sublimada na forma de Arte.

Ao costurar depoimentos com fartas e raras imagens de arquivo, o diretor Paulo Henrique Fontenelle expõe a lucidez insana da mente de Arnaldo, merecidamente saudado no filme como o artista que deu identidade brasileira ao rock através do conjunto Os Mutantes, ápice de trajetória musical que, de forma simbólica, começa na infância, quando, no alto de uma roda-gigante, Arnaldo ouviu Elvis Presley (1935 – 1977). “Eu me senti vivo”, recorda.

Na roda-viva do mundo adulto, Arnaldo, adolescente, formaria o grupo The Thunders, que desembocaria no conjunto O’ Seis (já com Rita Lee), que, por sua vez, seria o embrião dos revolucionários Mutantes. “A cabeça dos Mutantes era a de Arnaldo Baptista”, sentencia o maestro tropicalista Rogério Duprat (1932 – 2006), acrescentando que o trio paulista foi o elemento mais importante da geléia geral brasileira arquitetada por Caetano Veloso e Gilberto Gil em 1967.

Loki, a propósito, reproduz trechos da histórica apresentação de Domingo no Parque no III Festival de Música Popular da Brasileira, exibido pela TV Record em 1967. Foi quando Gilberto Gil se aliou ao trio para derrubar o muro que separava o rock da música brasileira.

Ao imediato estouro dos Mutantes, vieram, na seqüência, as viagens alucinógenas a bordo de LSD. “As drogas somente atrapalharam. Foi o começo do fim”, interpreta o produtor Liminha, na época baixista dos Mutantes. Sem fazer julgamento moral, o filme enfatiza através dos depoimentos o prejuízo que as drogas causaram na mente de Arnaldo. Sobretudo depois que Rita Lee, o primeiro idealizado amor do artista, saltou fora dos Mutantes e da vida de Arnaldo. Não necessariamente nessa ordem.

Loki, aliás, acerta ao não tomar posição em relação à ainda controvertida saída de Rita da banda. Se a Ovelha Negra (que se recusou a falar sobre o assunto para o filme) sustenta em entrevistas que foi expulsa por Arnaldo e Sérgio Dias Baptista, então decididos a guiar os Mutantes por trilhas mais progressivas, Liminha e o baterista Dinho Leme afirmam lembrar do momento em que a cantora comunicou aos colegas que estava saindo do grupo. Já Sérgio Dias dá a entender que a versão da expulsão é mais uma das fantasias da teatral Rita.

Espontânea ou não, a saída de Rita Lee do grupo ajudou a desintegrar a mente de Arnaldo Baptista. Tanto que o artista, depressivo, logo sairia dos Mutantes e gravaria um estupendo primeiro disco solo, Loki (1974), em cujas desiludidas letras expôs sua fratura emocional.

A crise se agravaria a ponto de Arnaldo não fazer seu agendado show no Festival de Águas Claras, em 1975. Contudo, da efêmera união do artista com a atriz Martha Mellinger, nasceria em abril de 1977 Daniel, único filho de Arnaldo e, naquele momento, único ponto de equilíbrio na confusão de sua vida.

Nem a formação de uma nova banda, a Patrulha do Espaço, deu novo prumo à carreira de Arnaldo, que, em 31 de dezembro de 1981, dia do aniversário de Rita Lee, tentou o suicídio ao se atirar do quarto andar de um hospital psiquiátrico. “Eu me joguei da janela”, assume Arnaldo. Contudo, o jogo da vida ainda não estava perdido para o mutante. No longo período de convalescença, entrou em cena Lucinha Barbosa, fã que viria a se tornar a dedicada mulher do artista.

Em seu refúgio em Juiz de Fora (MG), amparado por Lucinha, “sem ligação com o passado”, como ela enfatiza em seu depoimento, Arnaldo foi reorganizando sua mente num universo todo particular, com o auxílio da pintura. Até a volta consagradora em 2006 com a reunião dos Mutantes para show em Londres, idealizado dentro de evento em homenagem à Tropicália. A volta se estendeu ao Brasil e, em janeiro de 2007, um show ao ar livre reuniu 80 mil pessoas em São Paulo (SP) em torno dos Mutantes. Foi, no entender apropriado de Tom Zé, o fecho de um ciclo na carreira de Arnaldo.

Ao fim do filme, de todo comovente pela história naturalmente interessante do artista, Zélia Duncan – mutante temporária, recrutada para assumir no show de 2006 o posto de vocalista recusado por Rita Lee – sintetiza muito do visto e ouvido em duas horas de narrativa ao dizer que o legado de Arnaldo Baptista é a liberdade. Loki seduz ao expor sem firula a saga de um artista que venceu etapas e – hoje já alegre – celebra a eterna mutação da vida.

Publicado originalmente em http://blogdomauroferreira.blogspot.com/2008/10/loki-expe-lucidez-insana-da-mente-de.html

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